domingo, 26 de junho de 2011

2º dia: A subida ao Salkantay


Comecei esse dia com uma saudade muito profunda das minhas filhas. Acordamos ao pé da montanha, muito frio, tudo branco pela geada da noite anterior. Sentimentos a flor da pele pela expectativa da subida, pela noite mal dormida com os pés congelados, e com a noticia que minha companheira de quarto não seguiria mais essa peregrinação comigo.

Ali no pé da montanha senti uma profunda solidão. Sabia que aquela jornada seria solitária e muito interior. Equipados seguimos após cantarmos juntos um mantra a Pachamama (mãe terra). Silêncio...

Um brilho de uma pedra...muita saudade...lagrimas...

Subida íngreme! Falta de ar...poucos pensamentos...

Após os 4000 metros de altitude, não sei mais como tudo aconteceu. Eu comecei a ter tonturas. Lembro muito pouco de tudo, apenas sei que meu guia me colocou no burrinho e minha maior aprovação começou ali, aprendendo a me integrar com aquele animal. A sudida é assustadora. Os cavalos vão em zigzag pela estreita trilha, um abismo ao lado, andando rente ao penhasco, com as pedrinhas caindo conforme eles pisam. Se existia alguma ancestral Amazonas na minha estória, eu a invoquei. Eu estava em panico ali.

E então tive a luz, a clareza de saber que aquele medo fazia parte da minha peregrinação. Como nada na vida é por acaso, aquele evento também tinha sido programado por mim. Eu precisava passar por aquele medo e a entrega total a um ser que me guiaria até o topo. E gratidão por ele estar ali e me proteger. E tudo se acalmou...chegamos ao topo.

Silêncio...

A visão magnífica da montanha Salkantay...

Ar frio e seco...Falta de ar...





A descida foi intensa. Muita atenção para não escorregar. Mas, leve, doce, feliz. Ver a paisagem se alterando foi lindo. Saimos do extremo frio e seco, sem vegetação, arido, pedregoso, e conforme descemos o verde vai tingindo a paisagem. Primeiro uma vegetação rasteira e alguns riachos, que se formam pelo descongelameto da neve das montanhas. Agua cristalina, gelada. Passamos por dentro das nuvens. Nosso acampameto de almoço foi surreal. Fog completo, estamos no céu? Sim, estavamos no meio das nuvens! Comida saborosa feita com capricho e carinho. Mas meu estômago e intestino não quiseram digerir mais nada a partir deste dia. Mal da altitude, efeito emocional ou contaminação? Não sei, provavelmente um pouco de cada.

E segui, dali em diante controlando o emocional e racional, que falavam para mim o tempo todo que eu precisava comer, que sem comer não se anda. Mentira! Descobri isso após o café da manhã do terceiro dia, ainda sem comer. Palavras sábias do meu mestre. O que aconteceu a seguir foi que sempre que eu pegava meu cajado e começava a andar tudo passava. Vazio. Uma música de fundo na minha mente, eu, o caminho e o cajado. Só no momento que eu parava nos acampamentos que meus pensamentos, medos e diarréias conseguiam me alcançar. Inexplicavelmente!

Agora eu sei o que é manter um estado de meditação continuo. É estar 100% no agora. Entregue ao que acontecer. Mas guerreira para enfrentar.




sexta-feira, 17 de junho de 2011

1º Dia de Peregrinação

Segundo um provérbio chinês "uma imagem vale mais do que mil palavras".
Então vou deixar hoje fotos e sentimentos apenas sobre o primeiro dia.
Sentimento inicial: ansiedade!















Sentimento final: deslumbramento!
Segundo o dicionário o significado de Deslumbramento
s.m. Ofuscação momentânea da vista causada por muita luz.
Fig. Maravilha; fascinação; encanto.

Essa montanha coberta de neve e imponente com certeza causou-me deslumbramento.

Para terminar com mais um provérbio chinês: "Uma caminhada de mil léguas começa sempre com o primeiro passo".

domingo, 12 de junho de 2011

Eu me torno uma peregrina...


A tão esperada peregrinação...o motivo que me impulsionou a toda essa jornada!

Minha peregrinação na verdade começou muito antes de eu pensar em embarcar nessa viagem. Tudo começou no ano de 2009, com o aniversário de 40 anos do meu marido. Organizei uma festa incrível, numa boate badalada, muitos amigos, gente de perto e de longe, muita alegria, musica do nosso gosto, comidinha boa, um clima de amizade e carinho constante. Foi a melhor noite em uma boate da minha vida, da dele e de muitos amigos que estavam la. Após essa noite, eu comecei a refletir muito sobre os meus 40 anos, que não estava batendo na porta ainda, mas chegando de mansinho.

O tempo sempre foi uma preocupação na minha vida, não gosto da sensação de o tempo estar passando. E sempre me pego pensando que não aproveitei tudo que tinha. Mas a chegada dos 40 anos parece hoje em dia o novo debutar. Eu não debutei aos 15, diga-se de passagem. Preferi ganhar uma mobilete que era o máximo da liberdade na época permitida. E como eu aos 40 anos iria passar essa data? Uma festa na boate não fazia mesmo o meu perfil. Primeiro porque não sou uma pessoa super conhecida, nem popular, nem tenho tantos amigos assim para lotar uma boate! E não me entendam mal, eu tenho amigos. Sou uma pessoa de muitas irmãs espalhadas pelo mundo. Tenho amizades que são tão forte e verdadeiras que transcendem o tempo e a distancia. Sempre que encontro uma dessa amigas-irmãs é uma sensação de que estamos continuando a conversa de ontem a noite, apesar de as vezes anos sem nos ver.

Mas então como eu passaria meus 40 anos? Não sei dizer de onde nem quando surgiu essa ideia maluca, mas ela veio certeira: vou comemorar meu aniversário de 40 anos percorrendo o Caminho de Santiago de Compostela! Pronto, estava certo para mim. Era isso. Após essa revelação, minha mente racional começou a pensar, pesquisar, comentar, convidar amigas para acompanhar, etc, etc. Até que alguem disse "800 km? Você não vai dar conta." E aí que eu parei para pensar no que realmente eu estava me propondo. Eu queria me tornar peregrina e não maratonista como meu marido. E também precisava caminhar por esse caminho para me encontrar e não para provar para niguem que eu podia. E me fiz a pergunta: quanto eu consigo andar? Não sabia a resposta, nunca tinha andando mais de 10 km.

Foi então que em dezembro de 2010 eu entrei na academia, contratei uma personal trainer para me condicionar. Faltavam ainda 3 anos, mas eu precisava fazer testes antes de tentar Santiago. Na mesma época assisti a um programa do Alternativa Saúde no GNT onde eles tinham feito a trilha inca de Salkantay. Eram apenas 5 dias caminhando, algo em torno de 16 km por dia, e pensei, essa será minha primeira meta teste.

Propus a mim mesma 1 ano de treino para fazer a trilha. Mas o Universo conspira sempre que estamos prontas, e no final de janeiro recebo o telefonema da minha querida Marcinha, conversa vai, conversa vem...e eu digo a ela que minha meta esse ano era me tornar peregrina. Então ela me conta da viagem com Marco Shultz, já para maio, exatamente pela trilha Salkantay! Uma dadiva!

Depois disso foi treinar, treinar e treinar. Busquei ajuda de uma nutricionista "natureba" para comer direitinho, ganhando massa muscular e perdendo gordura, tudo com uma alimentação vegetariana no cardapio. O que foi essencial nesta fase de treino. Voce é o que você come (e o que você pensa e faz tambem). E pesquisei muuuuito, li tudo o que tinha neste google sobre trilha, sobre calçados, sobre roupas termicas, sobre o clima de lá, sobre experiências boas e ruins...

Enfim, não fui de gaiato mesmo. Fui para ser Peregrina. E vivenciar tudo o que o caminho me oferecesse.

sexta-feira, 10 de junho de 2011

Muitas viagens em uma só...

Foto: Ollantaytambo

Sem dúvidas essa viagem ao Peru foram muitas em uma só. Existiu pelo menos 3 viagens bem definidas. O retiro que foi uma viagem espiritual, o Vale Sagrado que foi uma viagem de turismo e cultural e a peregrinação que foi uma viagem de aventuras e desafios internos e externos.

Essa região do Vale Sagrado é lindissima. Apesar que estar lá durante essa temporada de retiro, nossa viagem foi tão bem planejada e abençoada pelo tempo bom, que conseguimos fazer vários lugares turísticos impressionantes e ainda ter tempo para meditar, praticar yoga, curtir nosso hotel maravilhoso Wilka Tika, se interiorizar, aproveitar a culinária local que é riquissima, etc.

Dois lugares que eu simplesmente amei por lá foram Ollantaytambo e as salinas de Maras. Em Ollantaytambo vimos as cidades incas, seus silos nos altos das montanhas, montanhas com faces de índios esculpidas e aprendemos sobre a sabedoria que esse antigo povo tinha sobre astronomia e arquitetura. Uma das colinas da região mostra essa face de índio onde no solstício de primavera o sol nasce exatamente na ponta do seu nariz!

foto: onde está Wally? Consegue encontrar a face do índio?



Maras é a região onde se encontra as antigas Salinas em terraços, onde a água de um lençol freático salgado (mais salgada que a água do mar!) repousa em piscinas evaporando dando origem a uma paisagem que só será preservada enquanto a exploração do mesmo sal for feita pelas tecnologias ancestrais. Lindíssimo de fotografar! O ar do local é tão seco que o nariz começa a arder e se você molhar a mão na água ela ficará branca como farinha após secar.






Da culinária destaco o sabor e tamanho maravilhoso do milho. A espiga tem grãos enormes e carnudos. E também possuem uma versão pipoca não estourada deliciosa, que parece aquele piruá que fica no fundo da panela quando a nossa não estoura, porém maior e mais macio.


Aqui podemos ver as muitas variedades de milho da região. Deste milho escuro é feito um suco de milho delicioso. Parece suco de uva, mas o sabor é diferente de tudo que já provei. Não tem como descrever, só provando mesmo.

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Meditação não é pensar na vida...


Foto: Por do sol em Machu Picchu

Cabe aqui uma pausa sobre essa viagem ao Peru...

Conversava com uma amiga, falando sobre peregrinação e a constante atenção que o caminho exige, portanto um estado de atenção plena ou MEDITAÇÃO, e ela não conseguiu entender esse momento. Para muitas pessoas a palavra meditação remete a um momento de reflexão, pensar na vida, tomar decisões.

Meditação não é reflexão. Meditação é ficar no presente, é estar com a mente e o corpo no mesmo lugar. O que parece obvio falando assim, mas se prestarmos um pouquinho de atenção aos nossos pensamentos no dia a dia, na maioria das vezes nosso pensamento não esta no mesmo lugar de nosso corpo. E seguindo várias tradições milenares, se a sua mente não esta onde o seu corpo está, então não existe o presente.

Vivemos em um mundo onde as expectativas sobre o futuro, medos e ansiedades, nos projetam lá para frente o tempo todo. E sempre comparando ao que ficou do passado, ao que você sofreu, ao que você deixou de querido, aos bons tempos. Não há problema nenhum em lembrar do passado ou fazer planos para o futuro. Mas isso deve ser momentaneo, pois o presente é só agora. Como diz uma música do Nando Reis que adoro "é bom olhar para trás e admirar a vida que soubemos fazer. É bom olhar pra frente, é bom, nunca é igual..."

Existem sim muitas formas de meditar. E podemos até em algum momento da meditação lançar umas questões ao nosso inconsciente. Mas são só alguns momentos onde você já esta em estado meditativo, ausência de pensamentos racionais, desapego de ego. Aí sim nesse momento, onde você começa a observar o nada que existe entre um pensamento e outro, onde voce começa a perceber o "eu observador" observando suas inquietudes, no momento em que sua mente esta apaziguada, que você já se desapegou dos pensamentos, nesse momento você pode revisar um conflito e limpá-lo, ou colocar uma questão pessoal e obter uma resposta.

Portanto, meditação não é reflexão, embora você possa fazer uma meditação reflexiva. Meditar é deter-se em algo. E o algo realmente é o que menos importa. Você medita enquanto lava louça, se estiver pretando atenção a isso. Você medita em uma oração, se estiver focado nas palavras e seu significado e não cantando uma oração enquanto pensa na lista do mercado que precisa fazer. Eu medito enquanto faço minhas massagens, colocando toda minha atenção e intenção naquele momento para trazer saúde e conforto as minhas clientes. E a qualidade do momento é ampliada, porque ali sim existe realidade, porque existe presença.

Treine sua mente para o momento presente, e você começará a ter uma vida completa, plena e pacificada.

"TEMPO NÃO ESPERA POR NINGUEM. ONTEM É HISTORIA. AMANHÃ É UM MISTÉRIO. O HOJE É UMA DÁDIVA, POR ISSO É CHAMADO DE PRESENTE."

domingo, 5 de junho de 2011

sábado, 4 de junho de 2011

E a viagem continua...

Um dos momentos mais poderosos dessa viagem interior aconteceu (para minha surpresa, ja que eu desejava demais a peregrinação) durante os dias de retiro. Ficamos em um hotel maravilhoso no Vale Sagrado, Wilka Tika (http://www.willkatika.com/7-chakra-gardens). Nesses dias pude ficar comigo mesma, meditando em meus jardins preferidos, observar a beleza das flores e insetos, fotografar, respirar o ar mais leve da região, ter o privilegio de uma consulta particular com um xamã que fez a leitura do meu circulo medicinal xamãnico (algo parecido com um mapa astral)... e claro, encontrar algumas barreiras que me prendiam por dentro.













Essa música que coloco a seguir faz parte da trilha sonora interior que me despetou para Pachamama (mãe terra), para os meus ancestrais maternos e todas as formas femininas existentes dentro da minha arqueologia corporal. Agradeço a Pachamama por me trazer até a sua terra e resgatar o feminino em mim.



Agora Nós Estamos Livres

Liberdade Poderosa
Libertadora da alma
seja livre
Ande comigo
Através dos campos dourados
Tão adoráveis
Adoráveis

Nós lamentamos nossos pecados
Mas nós tecemos nosso próprio destino
E sob o meu rosto
Eu permaneço frágil
Sob meu rosto
eu sorrio
Mesmo sozinho/ amedrontado
Sob Meu rosto eu estarei
Esperando

Corra comigo agora soldado de Roma
Corra e brinque nos campos com os pôneis
Corra comigo agora soldado de Roma
Corra e brinque nos campos com os pôneis
Corra comigo agora soldado de Roma
Corra e brinque nos campos com os pôneis
Corra comigo agora soldado de Roma
Corra e brinque nos campos com os pôneis

Liberdade Poderosa
Libertadora da alma
Descanse agora
E imagine
descansando em paz no final
É adorável esse lugar
É adorável, ninguém pode acreditar ou entender
Como vim de tão longe somente pela família
Minha família
eu deveria estar lá com eles quando o mundo desabou
Mas agora eles descansam comigo
Eu nunca esquecerei
Como senti aquele momento
Eu me libertarei

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Minhas experiências nos Andes







Eu realmente não ia postar nada sobre essa vivência que tive nesse 13 dias no Peru. Não, não é egoismo da minha parte, simplesmente não sabia como escrever tudo o que vivi por la. Achei que essa viagem era uma experiência tão pessoal que talvez não devesse ser contada ou compartilhada, afinal não era uma viagem profissional como foi a Índia. Mas sim uma viagem para o meu interior onde nem eu sei direito o que tem la dentro.

Porém me ocorreu que da mesma forma que eu pesquisei muito antes de fazer a trilha Inca, lendo varios blogs falando bem e mal, o que me deu força e cuidado com várias etapas, seria sim egoismo meu não deixar minha impressão, tão singela porém positiva desta experiencia.

Positiva é pouco para dizer dos dias nos Andes...
A primeira impressão ao chegar em Cuzco já acabou com qualquer com a minha idéia de uma viagem ao 3o mundo. Achei que eu ia para o Peru, na minha cabeça algo muito parecido a ir ao Paraguai...risos Mas não, Cuzco é lindinha!!! Bonita, limpa e lembra demais Ouro Preto, Tiradentes, essas cidades mineiras. Super segura, você anda o tempo todo com guardinhas nas esquinas que servem mais para não deixar os vendedores aborrecerem os turistas do que realmente guardar algum perigo.

Tudo lá é muito colorido. As fotos estão simplesmente lindas. E o artesnato local também segue essa cor. A cultura deles é rica e eles respeitam muito as tradições e suas raízes. Os incas eram povos realmente inteligentes e dá para ver em tudo o que fizeram a habilidade com matemática e arquitetura.

As pessoas são muito amáveis, estão sempre servindo com um sorriso no rosto e prontas para ajudar. Realmente um lugar mágico que vocês precisam conhecer.


continua...