Quando voltei da Índia, minha filha, na época com 7 anos, se irritava todas as vezes que eu falava a palavra sagrado. O rio Ganges é sagrado, a comida é sagrada, os ratos não podemos matar porque são sagrados, o templo sagrado...e ela me questionava: mãe, mas tudo na Índia é sagrado? Eu eu explicava com carinhho para ela que lá as pessoas dão muito valor a tudo, a vida e ao que proporciona a vida. Não sei bem se ela entendeu, pois continua se irritando quando falo de Machu Picchu e Pachamama (mãe terra) e outras coisas sagradas das quais tenho experimentado nesses últimos anos.
Porém, nessas experiências ao redor do mundo tenho encontrado o que esses lugares tem de especial. E me instigam cada vez mais a ir até todos eles e provar dessa "energia" tão poderosa e maravilhosa que fornecem a nós.
Confesso que fui para a Índia um tanto quanto racional, cética e objetiva. Eu queria estudar Ayurveda. Eu queria saber mais dessa ciência milenar que nos acrescenta tanto no dia a dia. E o berço dela foi na Índia, portanto era lá que eu precisava ir. Mas nunca fui adepta dos hippies, hare krisnas e outras coisas desse tipo que vem para o ocidente. Tinha até uma certa aversão a tudo isso.
Porém, após 2 semanas vivendo e estudando em Rishikesh eu tive um final de semana livre. Neste dia, junto a um grupo de amigas queridíssimas, fomos tomar um banho no rio Ganges. Lá o rio é limpíssimo, águas azuis celestes das geleiras do Himalaia. Lindo! Tomamos nosso "banho sagrado", congelante e seguimos de volta para a vila. Aparentemente nada mudou, porém comecei a perceber que as pessoas de lá agora vinham até mim querendo conversar. Era como se aquele simples banho no rio tivesse retirado um véu que me cobria. Muito difícil de explicar aqui com palavras. Eu agora brilhava...
Isso mudou tudo no meu ceticismo. Eu passei a acreditar que alguns lugares no planeta realmente são mágicos. Não sei mesmo porque isso acontece. Também não conheço tantos assim, mas meu lado cientista a partir deste dia quis provar mais do mesmo. Machu Picchu foi a segunda experiência.
A terceira experiência foi totalmente surpresa. E esse é o motivo que estou escrevendo sobre lugares sagrados hoje aqui. Fui a França de férias com a família. No começo do ano nas minhas aulas de francês aprendi sobre uma ilha na França onde as marés tem a maior amplitude do planeta. Achei interessante a ideia e coloquei no meu roteiro de férias. Monte Saint Michel! Mas quando estava chegando lá, ainda a 10 km do local tive a primeira visão do monte! Emocionante...aquela abadia no alto no monte, ao longe, campos de trigo amarelinhos na paisagem ao redor de mim...
Esse local tem mais de 1300 anos, é lindo, é histórico, é contemplativo, é especial. Peregrinos do mundo todo iam para lá terminar sua vida.
Alguns lugares são mágicos mesmo...
"As pessoas sempre chegam na hora exata nos lugares onde estão sendo esperadas." - O Diário de Um Mago
Paulo Coelho